segunda-feira, 26 de novembro de 2007

A menina J. e a cara de pau do DEM


Recebi hoje pela manhã em meu email a nota do DEM sobre o acontecimento da prisão da menina J. em uma cela com mais 30 homens. Nada podia me deixar mais enojado.

A prática de fazer política com a desgraça dos outros é corriqueira no Brasil. Aliás, segundo alguns analistas de nossa sociedade, a miséria é mantida em níveis estáveis pelas elites, pois nela se legitimam as ações clientelistas como uma preocupação com o social.

O caso envolvendo a menor J. tem um significado muito importante para a nossa sociedade, e ao invés de suscitar campanhas pré-eleitorais, deveria lançar nossa sociedade em uma reflexão sobre o tipo de estado que temos. Demonstra que nossa polícia age de forma deliberada contra a garantia dos direitos individuais dos cidadãos, e para isso conta com a ajuda dos membros do próprio poder judiciário. É o que fica evidente ao observamos que concorreram para a violação dos direitos de uma menor a delegada, uma juíza e o diretor da polícia na região, além dos investigadores responsáveis pela prisão.

Por isso a carta assume tal odor nauseabundo. As estruturas policiais não foram inteiramente desmontadas na mudança de um governo a outro. Mas, ao desistoricizar a questão, considerando-a um caso isolado, de responsabilidade do governo atual, ignorando a responsabilidade de um dos seus signatários com o quadro em questão, a carta faz parecer que nada existia antes, que tais desrespeitos aos direitos humanos partem de uma ordem de gabinete. Ignora que as medidas para punir os envolvidos estão sendo tomadas.

De fato, nada poderá desfazer o mal a que foi submetida a jovem. Contudo, o quadro social em que a mesma se encontra submetida é oriundo de décadas de ausência de políticas sociais inclusivas. Pois afinal, por que uma jovem se envolveria no submundo de pequenos delitos, de abandono da escola, de vida marginal, senão por ausência de uma política de estado para o menor? Estas e outras questões a carta não responde.

Chamar de cara de pau os autores da carta não é ser chapa-branca, como os leitores conservadores dos blogs me chamarão ao lerem esta postagem. É ser coerente com uma visão de mundo que busca a verdade histórica como referência para a interpretação dos fatos sociais. É lembrar que, em 12 anos de governos tucanos, onde os Democratas assumiram por duas vezes a vice-governadoria, se apregoou a política do estado mínimo, abandonando-se portanto as políticas sociais, responsabilidade principal do estado em uma região onde o desrespeito aos direitos humanos mais fundamentais são prática corriqueira historicamente.

Assim, que Valéria Pires Franco e Rodrigo Maia lavem suas bocas antes de falar em qualquer coisa e olhem para seus próprios rabos, como conta a velha parábola dos macacos. Pois, se puderem enxergar alguma coisa além de seu oportunismo eleitoral, verão que seus rabos não estão sujos simplesmente, mas sim imundos.

2 comentários:

Anônimo disse...

Caro Antônio Paraense,
Solicito á vc que me envie o link onde posso encontrar esta carta absurda da sra. Valéria Pires Franco.
agradeço.
vanessagamboa@ig.com.br

Blog do Paraense disse...

Vanessa

Estou enviando neste momento a carta. Solicito a você que denuncie esta coisa absurda, pios parece que, para estes senhores, a história não existe. São como aquele filme com o Adam Sandler e a Drew Barrymore: a cada dia acordam sem lembrar os acontecimentos do dia anterior.

Antônio Paraense